terça-feira, 9 de maio de 2017

Tratado - Dia #30L - 3ª Semana


IV. Culto especial ao Mistério da Encarnação 

243. Quarta prática. Terão especial devoção ao grande mistério
da Encarnação do Verbo, celebrado no dia 25 de março.

É o mistério próprio desta Devoção, visto que ela foi inspirada
pelo Espírito Santo:

1º. Para honrar e imitar a inefável dependência que o
Filho de Deus quis ter de Maria, para glória de seu Pai e
para nossa salvação. Esta dependência manifesta-se duma
maneira particular neste mistério, em que Jesus Cristo está
cativo e escravo no seio de Maria Santíssima, e onde depende
d'Ela em todas as coisas.

2º. Para agradecer a Deus as graças incomparáveis
que deu a Maria e, particularmente, por a ter escolhido para
sua tão digna Mãe, escolha que se realizou neste mistério.
Estes são os dois fins principais da escravidão de Jesus
Cristo em Maria.

244. Nota, por favor, que eu digo, habitualmente, escravo
de Jesus em Maria, escravidão de Jesus em Maria. Pode-se
realmente dizer, como muitos o fizeram até aqui, escravo de
Maria, escravidão de Maria. Mas parece-me preferível dizer
escravo de Jesus em Maria. Como aconselhava o Padre
Tronson, Superior Geral do Seminário de São Sulpício, célebre
por sua rara prudência e piedade consumada. Foi assim
que aconselhou um sacerdote que o consultou sobre este assunto.
E as razões de tal proceder são as seguintes:

245. 1ª. Estamos num século orgulhoso, em que abundam
os sábios soberbos, os espíritos fortes e críticos, que acham o
que criticar nas práticas de piedade mais fundadas e mais sólidas.

A fim de não lhes fornecer, sem necessidade, um pretexto
de crítica, vale mais dizer escravidão de Jesus Cristo
em Maria, e dizer-se escravo de Jesus Cristo do que escravo
de Maria. Assim denomina-se esta Devoção mais de acordo
com o seu fim último, que é Jesus Cristo, do que com o caminho
e meio para lá chegar, que é Maria. Apesar disso, podemos,
na verdade, usar sem escrúpulos ambas as denominações,
como eu mesmo faço. Por exemplo, um homem que vai
de Orleans a Tours pelo caminho de Amboise pode muito bem
dizer que vai a Amboise, e que vai a Tours; que é viajante
para Amboise e para Tours. No entanto, a diferença é que
Amboise é apenas o caminho direto para ir a Tours, e que só
Tours é o seu fim último e o termo da sua viagem.

246. 2ª. O principal mistério que se celebra e honra nesta
Devoção é o mistério da Encarnação, no qual se pode ver
Jesus em Maria, encarnado no seu seio. Por isso vem mais a
propósito dizer escravidão de Jesus em Maria. Jesus habitando
e reinando em Maria, conforme a bela oração de tantos
homens célebres:

“Ó Jesus, que viveis em Maria, vinde e vivei em Vossos
servos, no espírito da Vossa Santidade, na Plenitude de
Vossa Força, na Perfeição de Vossas Vias, na Verdade de Vossas Virtudes, na Comunhão de Vossos Mistérios, dominai sobre
toda a potestade inimiga, em Vosso Espírito para a Glória
do Pai. Amém.”

247. Este modo de falar mostra mais claramente a íntima
união que existe entre Jesus e Maria. Estão unidos tão intimamente
que um está todo no outro: Jesus todo em Maria e Maria
toda em Jesus. Ou antes, Ela já não existe: é Jesus que é tudo
n'Ela. Seria mais fácil separar do Sol a sua luz, que Maria de
Jesus. Pelo que se pode chamar a Nosso Senhor, Jesus de
Maria, e à Santíssima Virgem, Maria de Jesus.

248. O tempo não permite deter-me aqui para explicar as
excelências e grandezas deste mistério de Jesus vivendo e reinando
em Maria, ou da Encarnação do Verbo. Por isso contento-me com dizer, em duas palavras, que este é o primeiro
dos mistérios de Jesus Cristo, o mais oculto, o mais elevado e
o menos conhecido. Foi neste mistério que Jesus escolheu
todos os eleitos com a colaboração de Maria, escondido no
seu seio, que por isso é chamado pelos santos de “A Sala dos
Segredos Divinos”. Foi neste mistério que Jesus operou todos
os mistérios que depois se seguiram na sua vida, pela
aceitação que deles fez. “Jesus, entrando no mundo, disse:
Eis que venho para fazer a tua vontade, ó Deus” (Hb 10, 5-9). Por conseguinte, este mistério é um resumo de todos os
outros; encerra a vontade e a graça de todos.
Finalmente é o Trono da Misericórdia, da Liberalidade e da Glória de Deus.

Trono da sua Misericórdia para nós, pois só podemos
nos aproximar de Jesus por meio de Maria, bem como só podemos
vê-lo e falar-lhe por intermédio de Maria. Jesus, que
atende sempre à sua querida Mãe, concede neste mistério sua
graça e misericórdia aos pobres pecadores. “Vamos, pois, com
confiança, ao trono da graça” (Hb 4, 16).

É ainda o Trono da sua Liberalidade para com Maria,
pois, enquanto o Novo Adão permaneceu neste verdadeiro
Paraíso Terrestre, operou tantas maravilhas escondidas, que
nem os anjos nem os homens as podem compreender. É por
isso que os santos chamam Maria de a Magnificência de Deus,
como se Deus só em Maria fosse Magnífico (Is 33, 21).

É também o Trono da sua Glória para o Pai celeste,
pois foi em Maria que Jesus Cristo aplacou perfeitamente seu
Pai, irritado com os homens. Foi n'Ela que Jesus reparou cabalmente
a glória que o pecado lhe tinha roubado. No sacrifício
que fez da sua vontade e de si mesmo, Jesus deu mais
glória a Deus do que jamais lhe teriam dado todos os sacrifícios
da Antiga Lei. Enfim, foi em Maria que Jesus deu ao Pai
uma glória infinita, que jamais havia recebido do homem.


Um comentário:

  1. Nunca poderia imaginar um capítulo tão lindo como este, de uma riqueza sem fim, sinto que, se cada vez que eu for ler, uma nova janela se abrirá no meu coração em grandeza. É como se cada vez que eu for ler eu descubro algo a mais, e isso se torna em mim um sentimento inexplicável de tamanha alegria e plena satisfação...é como me sinto e como me sentirei mais e mais cada vez que o for ler.

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