segunda-feira, 8 de maio de 2017

Tratado - Dia #29L - 3ª Semana


II. A Coroinha da Santíssima Virgem 

234. Segunda prática. Rezarão todos os dias de sua vida,
mas sem a isso se obrigarem, a coroinha da Santíssima Virgem.

Esta compõe-se de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias,
em honra dos doze privilégios e grandezas da Santíssima Virgem.

Esta prática é muito antiga e fundamenta-se na Sagrada
Escritura. São João viu uma mulher coroada de doze estrelas,
vestida de Sol e tendo a Lua debaixo dos pés (Ap 12, 1). Segundo
os intérpretes, essa mulher é a Santíssima Virgem.

235. Há várias maneiras de recitar bem esta coroinha, e seria
demasiado longo mencioná-las. O Espírito Santo as ensinará
aos que forem mais fiéis a esta Devoção. Entretanto, para
rezá-la em sua forma mais simples dir-se-á ao começar:
“Dignai-Vos conceder-me que Vos louve, ó Virgem Sagrada,
dai-me virtude contra os Vossos inimigos!” Em seguida rezase
o Credo, depois um Pai-Nosso, quatro Ave-Marias e um
Glória ao Pai; e novamente um Pai-Nosso, quatro Ave-Marias
e um Glória ao Pai, e assim por diante. No fim se dirá:
“Sob a Vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de
Deus; não desprezeis as nossa súplicas em nossa necessidades;
mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem Gloriosa
e Bendita!”

III. Uso das Cadeiazinhas

236. Terceira prática. É muito louvável, muito glorioso e
útil para aqueles e aquelas que assim se fazem escravos de
Jesus em Maria, que usem umas cadeiazinhas de ferro. Estas
ser-lhes-ão um sinal da sua Escravidão de Amor, e serão bentas
com uma bênção própria. Estes sinais exteriores não são,
na verdade, tão essenciais, e uma pessoa pode passar bem
sem eles, embora se tenha abraçado a esta Devoção. Mas os
escravos de amor sacudiram as cadeias vergonhosas da escravidão
do demônio, a que o pecado original e talvez os pecados
atuais os tinham reduzido. Por isso não posso deixar de
louvar aqueles e aquelas que se sujeitaram voluntariamente à
gloriosa escravidão de Jesus Cristo, e se gloriam, com São
Paulo, de estar em cadeias por amor de Jesus Cristo (Ef 3, 1).

Estas cadeias são mil vezes mais preciosas, embora de ferro e
sem brilho algum, que todos os colares de ouro dos imperadores.

237. Ainda que outrora não houvesse nada de mais difamante
do que a Cruz, no presente é esse madeiro o que há de mais
glorioso no Cristianismo. O mesmo se diga dos ferros da escravidão.

Entre os antigos e, mesmo hoje, entre os pagãos,
nada há de mais ignominioso. Mas para os cristãos não há
nada mais ilustre do que essas cadeias de Jesus Cristo. Elas
livram-nos e preservam-nos dos infames laços do pecado e
do demônio. Colocam-nos em liberdade e ligam-nos a Jesus e
a Maria, não por imposição e por força como se faz a forçados,
mas por caridade e amor, como a filhos. “Atrai-los-ei
com cadeias de caridade”, diz Deus pela boca dum profeta
(Os 11, 4) . Estas cadeias são, por conseguinte, fortes como a
morte, e, de certo modo, mais fortes ainda nas pessoas que
forem fiéis em usar estes gloriosos sinais até a morte. Pois,
embora a morte destrua seus corpos, reduzindo-os à podridão,
não destruirá esses laços da sua escravidão, já que sendo
de ferro, não se corrompem facilmente. E talvez no dia da
ressurreição da carne, no grande momento do juízo final, essas
cadeias, que lhes ligarão ainda os ossos, constituam parte
da sua glória e sejam transformadas em gloriosas cadeias de
luz. Felizes, portanto, mil vezes felizes, os ilustres escravos
de Jesus em Maria, que usarem estas cadeias até a sepultura!

238. Eis as razões por que se usam estas cadeiazinhas:
A primeira razão é para que o cristão se lembre dos
votos e promessas do seu Batismo; para que se recorde da
renovação perfeita que deles fez, por meio desta Devoção, e
da estreita obrigação em que está de lhes ser fiel. O homem
conduz-se, muitas vezes, mais pelos sentidos do que pela fé
pura, e esquece-se facilmente das suas obrigações para com
Deus, se não houver qualquer coisa exterior que lhas faça
lembrar. Ora, estas cadeiazinhas servem maravilhosamente
para lembrar ao cristão as cadeias do pecado e da escravidão
do demônio, de que o Batismo o livrou. Lembram também a
dependência de Jesus Cristo em que o homem se colocou
pelo Santo Batismo, bem como a ratificação que dela fez ao
renovar as suas promessas. Uma das razões por que tão poucos
cristãos pensam nas promessas do seu Santo Batismo e
vivem tão livremente como se nada tivessem prometido a
Deus, como os pagãos, é que não trazem nenhum sinal exterior
que os faça lembrar disso.

239. A segunda razão é para mostrar que não nos envergonhamos
de ser escravos e servos de Jesus Cristo, e que renunciamos
à funesta escravidão do mundo, do pecado e do demônio.

Uma outra razão é para servirem de garantia e preservação
contra as cadeias do pecado e do demônio. Pois temos
de trazer ou as cadeias da iniquidade, ou as cadeias da caridade
e da salvação.

240. Ah! Meu querido irmão, quebremos as cadeias do pecado
e dos pecadores, do mundo e dos mundanos, do demônio
e dos seus sequazes, e “lancemos para longe de nós o seu
jugo funesto” (Sl 2, 3). Para me servir das palavras do Espírito
Santo: “Ponhamos os pés nos Seus gloriosos ferros, e o
pescoço nos Seus grilhões” (Eclo 6, 25). “Curvando os ombros,
levemos a Sabedoria, que é Jesus Cristo, sem aborrecermos
as suas cadeias” (Eclo 6, 26). Note-se que antes de
dizer estas palavras, o Espírito Santo vai preparando a alma,
para que não venha a rejeitar este importante conselho. Eis as
suas palavras: “Ouve, meu filho, e recebe um conselho de
sabedoria, e não rejeites o meu conselho (Eclo 6, 24).

241. Permite-me, meu querido amigo, que eu me una ao Espírito
Santo, para te dar o mesmo conselho: “As suas cadeias
são cadeias de salvação” (Eclo 6, 31). Jesus Cristo, do alto
da Cruz, deve atrair tudo a si, livre ou forçadamente. Ele atrairá
os réprobos com as cadeias de seus pecados a fim de os
acorrentar, como forçados e demônios, à sua ira eterna e à sua
justiça vingadora. Mas atrairá particularmente nestes últimos
tempos, os predestinados, com cadeias de caridade: “Atrairei
tudo a Mim” (Jo 12, 32). “Hei de atraí-los com cadeias e
vínculos de caridade” (Os 11, 4).

242. Estes escravos de amor de Jesus Cristo, estes prisioneiros
de Jesus Cristo, podem usar as cadeias ao pescoço, nos
braços, à cintura ou nos pés. O Padre Vicente Caraffa, sétimo
Geral da Companhia de Jesus, que faleceu em odor de santidade em 1643, trazia uma argola de ferro nos pés, como sinal
da sua servidão, e dizia que lamentava não poder arrastar publicamente
as suas cadeias. A Madre Inês de Jesus, de quem
já falamos, usava uma corrente de ferro em volta da cintura.

Alguns outros usaram-na ao pescoço, como penitência pelos
colares de pérolas que tinham trazido no mundo. Outros ainda
usaram-na nos braços, para se lembrarem, nos seus trabalhos
manuais, de que eram escravos de Jesus Cristo.


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