domingo, 7 de maio de 2017

Tratado - Dia #28L - 3ª Semana


CAPÍTULO OITAVO 

PRÁTICAS PARTICULARES DESTA DEVOÇÃO 

Artigo Primeiro 

Práticas exteriores 

226. Embora o essencial desta Devoção consista no interior,
não deixa de compreender várias práticas exteriores, que
não se devem negligenciar. “É preciso fazer estas coisas, mas
sem omitir aquelas” (Mt 23, 23). A razão disto esclarece-se,
quer porque as práticas exteriores bem feitas ajudam as interiores,
quer porque lembram ao homem, que sempre se guia
pelos sentidos, o que está fazendo ou o que deve fazer. Também
podem edificar os que as vêem, o que não sucede com as
puramente interiores. Portanto, que nenhum mundano critique,
nem aqui meta o nariz, para dizer que a Verdadeira Devoção
reside no coração, que é preciso evitar as exterioridades,
que pode haver nisso vaidade, que é preciso ocultar a devoção,
etc. Respondo-lhes com o meu Mestre: “Que os homens
vejam as vossas obras boas, e glorifiquem o vosso Pai que
está nos céus” (Mt 5, 16). Não que se devem fazer as ações e
devoções exteriores, como diz São Gregório, para agradar aos
homens e tirar daí algum motivo de louvor, pois isso seria
vaidade. Mas por vezes fazem-se diante dos homens com o
fim de agradar a Deus e de, por este meio, o fazer glorificar,
sem a preocupação do desprezo ou louvor dos homens. Mencionarei
apenas, em resumo, algumas práticas exteriores, a
que chamo exteriores não porque sejam feitas sem o interior,
mas porque têm qualquer coisa de exterior, que as distingue
das que são puramente interiores.

I. Consagração depois dos exercícios preparatórios 

227. Primeira prática. Esta Devoção particular da entrega
total não está erigida em confraria, embora isso fosse de desejar
(atualmente já está). Ora, aqueles e aquelas que quiserem
seguir esta Devoção, primeiro empregarão pelo menos
doze dias a esvaziar-se do espírito do mundo, contrário ao de
Jesus Cristo, conforme já disse na primeira parte desta preparação
para o Reino de Jesus Cristo. Depois empregarão três
semanas em encher-se de Jesus Cristo, por meio da Santíssima
Virgem. Eis a ordem que se pode observar:

228. Durante a primeira semana, aplicarão todas as suas
orações e atos de piedade para pedir o conhecimento de si
mesmos e a contrição de seus pecados; farão tudo em espírito
de humildade. Para isso poderão, se quiserem, meditar no
que eu disse sobre o nosso fundo mau (nn. 78-79), e considerar-se durante os dias dessa semana como caracóis, lesmas,
sapos, porcos, serpentes, bodes. Ou meditem estas três palavras
de São Bernardo: “Pensa no que foste, um pouco de lama;
no que és, um vaso de estrume; no que serás, alimento de
vermes!” Pedirão a Nosso Senhor, e ao divino Espírito Santo
que os esclareça, repetindo as palavras: “Senhor, que eu veja!”
(Lc 18, 41). Ou: “Que eu me conheça!” Ou: “Vinde, Espírito
Santo!” Rezarão todos os dias a ladainha do Espírito Santo e
a oração que se lhe segue. Recorrerão à Santíssima Virgem,
pedindo-lhe esta grande graça, que deve ser o fundamento de
todas as outras. Para isso dirão todos os dias o “Ave Maris
Stella” e a ladainha de Nossa Senhora.

229. Na segunda semana aplicar-se-ão, em todas as orações
e obras de cada dia, a conhecer a Santíssima Virgem. Pedirão
este conhecimento ao Espírito Santo, podendo ler e meditar o
que sobre isto dissemos. Rezarão, como na primeira semana, a
ladainha do Espírito Santo e o “Ave Maris Stella” ajuntando um
Rosário cada dia, ou pelo menos um Terço, por esta intenção.

230. Empregarão a terceira semana em conhecer Jesus Cristo.
Poderão ler e meditar o que a este respeito dissemos, e ler
a oração de Santo Agostinho, que vem no princípio desta segunda
parte (n. 67). Poderão dizer e repetir, com o mesmo
santo, mil e mil vezes ao dia: “Senhor, que eu Vos conheça!”

Ou então: “Senhor, fazei que eu veja quem sois Vós!” Rezarão,
como nas semanas precedentes, a ladainha do Espírito
Santo e o “Ave Maris Stella”, e acrescentarão todos os dias a
ladainha do Santíssimo Nome de Jesus.

231. No fim dessas três semanas confessar-se-ão e comungarão
com a intenção de se darem a Jesus Cristo na qualidade
de escravos de amor, pelas mãos de Maria. E depois da comunhão,
que se esforçarão por fazer segundo o método abaixo
indicado (n. 266), dirão a fórmula da consagração, que também
acharão mais adiante. Deverão escrevê-la ou mandá-la
escrever, se não estiver impressa, e assiná-la no mesmo dia
em que a fizerem.

232. Será bom que nesse dia paguem algum tributo a Jesus
Cristo e a sua Santíssima Mãe, quer como penitência da sua
passada infidelidade às promessas do Batismo, quer para protestar
a sua dependência do domínio de Jesus e Maria. Esse
tributo será segundo a devoção e a capacidade de cada um.

Poderá ser um jejum, uma mortificação, uma esmola, uma
vela. Ainda mesmo que não dessem mais que a homenagem
de um alfinete, mas de todo o coração, isso bastaria, pois Jesus
só olha a boa vontade.

233. Uma vez por ano, pelo menos, renovarão a mesma consagração,
no mesmo dia em que a fizeram, observando as mesmas
práticas durante três semanas. E poderão até mesmo renovar tudo o
que fizeram todos os meses, e mesmo todos os dias, com estas breves
palavras: “Eu sou todo Vosso e tudo o que tenho Vos pertence, ó
meu amável Jesus, por Maria, Vossa Santa Mãe!” (n. 266).


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