quarta-feira, 3 de maio de 2017

Tratado - Dia #24L - 2ª Semana


Artigo Segundo 

Maria Virgem e os Seus escravos de amor 

201. Vejamos agora os amorosos serviços que a Santíssima
Virgem, como a melhor de todas as mães, presta aos Seus
fiéis servidores, que se lhe deram da maneira que expus, e
segundo a figura de Jacó.

I. Ela os ama 

“Eu amo aqueles que me têm amor” (Pr 8, 17).

1) Ama-os porque é sua verdadeira Mãe, e uma mãe
ama seus filhos, fruto das suas entranhas;

2) Ama-os por gratidão, visto que efetivamente eles a
amam como sua boa Mãe;

3) Ama-os porque, sendo predestinados, Deus lhes tem
amor: “Amei Jacó e odiei Esaú” (Rm 9, 13);

4) Ama-os porque se lhe consagraram inteiramente e
se tornaram seu quinhão e sua herança: “Recebe Israel por
tua herança“ (Eclo 24, 13).

202. Ela os ama ternamente, e com mais ternura que todas
as mães juntas. Juntai, se puderdes, num só coração de mãe e
para com um único filho, todo o amor natural que as mães do
mundo inteiro têm pelos seus filhos: certamente essa mãe
amará muito esse filho. No entanto, verdade é que Maria ama
ainda mais ternamente Seus filhos do que aquela mãe amaria
o seu. Ela não os ama apenas com afeto, mas também com
eficácia. O seu amor por eles é ativo e efetivo, como o de
Rebeca por Jacó, e ainda mais.

Eis o que esta boa Mãe, de quem Rebeca era apenas uma
imagem, realiza para obter a Seus filhos a bênção do Pai celeste:
203. 1) Ela espreita, como Rebeca, as ocasiões favoráveis
para lhes fazer bem, para os engrandecer e enriquecer. Ela vê
claramente em Deus os bens e os males, os bons e os maus
sucessos, as bençãos e as maldições divinas. Por isso dispõe
de longe todas as coisas, para livrar os Seus servos de toda a
espécie de males, e para os cumular de todos os bens. Assim,
se apresentar-se-lhe a ocasião de obter, em Deus, um bom
prêmio ou proveito, pela fidelidade de alguma criatura a qualquer
alta missão, é fora de dúvida que Maria obterá esta graça
a um dos Seus filhos e servos fiéis, juntamente com a graça
de tudo levar a cabo fielmente. “Ela própria se ocupa dos
nossos interesses e negócios”, diz um Santo.

204. 2) Ela os favorece com bons conselhos, como Rebeca
a Jacó: “Meu filho, segue os meus conselhos” (Gn 27, 8). E,
entre outros conselhos, inspira-lhes o de lhe trazerem dois
cabritos, isto é, o corpo e a alma, para lhos consagrarem, a
fim de que Ela prepare um festim agradável a Deus. Inspira-lhes
ainda o conselho de fazerem tudo o que seu Filho Jesus
Cristo ensinou com suas palavras e exemplos. Se não é diretamente
que lhes dá estes conselhos, dá-lhos pelo ministério
dos anjos, cuja maior honra e prazer é obedecer a alguma das
suas ordens para baixar à Terra e vir em socorro de algum dos
servidores d'Ela.

205. 3) Quando lhe levamos e consagramos o corpo e a alma,
e tudo o que deles depende, sem nada excetuar, que faz esta
boa Mãe? Aquilo que outrora fez Rebeca aos dois cabritos
que Jacó lhe trouxe:

1º. Sacrifica-os, fazendo-os morrer para a vida do velho
Adão;

2º. Esfola-os e tira-lhes a pele natural, que são as inclinações
da natureza, o amor próprio, a vontade própria e todo
o apego às criaturas.;

3º. Purifica-os de suas manchas, impurezas e pecados;

4º. Prepara-os ao gosto de Deus e para a sua maior
glória. Como só Ela conhece perfeitamente o gosto divino e a
maior glória do Altíssimo, também só Ela pode aprontar e
preparar, sem se enganar, o nosso corpo e a nossa alma segundo
esse gosto infinitamente elevado e essa glória infinitamente
escondida e eterna.

206. 4) Esta boa Mãe, tendo recebido a oferta perfeita que
lhe fizemos, de nós mesmos e dos nossos méritos e satisfações,
por meio da Devoção de que já falei, e tendo-nos uma
vez despojado dos nossos velhos hábitos, prepara-nos e torna-nos dignos de comparecer diante de nosso Pai celeste:

1º. Reveste-nos com os vestidos apropriados, novos,
preciosos e perfumados de Esaú, o primogênito, isto é, de
Jesus Cristo, seu Filho. Ela guarda estas vestes em sua casa,
quer dizer, tem-nas em seu poder, sendo a tesoureira e
dispensadora universal dos méritos e das virtudes de Jesus
Cristo, seu Filho. E Maria pode dá-los e comunicá-los a quem
quer, quando quer, como quer e na medida que quer, como já
acima vimos (nn. 25 e 141).

2º. Envolve as mãos e o pescoço de Seus servos com a
pele dos cabritos mortos e esfolados, isto é, adorna-os com os
méritos e o valor das ações deles mesmos. Ela mata e mortifica
o que há de impuro e imperfeito nas suas pessoas, mas não
perde nem dissipa todo o bem que a graça neles operou. Guarda-o e aumenta-o, para fazer dele o ornamento e a força de
seu pescoço e de suas mãos, ou seja, para lhes dar fortaleza
em levar o jugo do Senhor, que assenta sobre o pescoço, e
para operarem grandes coisas para glória de Deus e a salvação
de seus pobres irmãos.

3º. Ela dá um novo perfume e uma nova graça a essas
vestes e ornamentos, comunicando-lhes as suas próprias vestes,
quer dizer: os méritos e virtudes, que Ela lhes legou em
testamento ao morrer, como diz uma santa religiosa do século
passado, morta em odor de santidade, e que o soube por revelação.

Deste modo, todos os Seus domésticos, fiéis servos e
escravos estão duplamente vestidos com vestes de seu Filho
e as suas: “Todos os Seus domésticos trazem vestidos forrados”
(Pr 31, 21). É por isso que não têm a recear o frio de
Jesus Cristo, branco como a neve, que os réprobos, inteiramente
nus e desprovidos dos merecimentos de Jesus Cristo e
da Santíssima Virgem, não poderão suportar.

207. 5) Ela lhes faz obter, enfim, a bênção do Pai celeste,
embora naturalmente não a devessem receber por não serem
os primogênitos, e apenas filhos adotivos. Com estas vestes
inteiramente novas, muito preciosas e muito perfumadas, e
com o corpo e a alma bem preparados e aprontados, aproximam-se confiadamente do leito de repouso  do Pai celeste.

Ele os entende e distingue pela voz, que é a do pecador; apalpa-lhes as mãos, recobertas de peles; sente o aroma dos seus
vestidos; come com prazer o que Maria, a Mãe deles, lhe preparou.

E reconhecendo neles os méritos e o bom odor de seu
Filho e de sua Santa Mãe:

1º. Ele lhes dá uma dupla bênção. A bênção do orvalho
do Céu (Gn 27, 28), que é a graça divina, semente da glória:
“Deus abençoou-nos em Jesus Cristo com toda a bênção espiritual”
(Ef 1, 3). E a bênção da fecundidade da terra (Gn 27, 28), isto é, este Pai bondoso dá-lhes o pão quotidiano e uma
suficiente abundância dos bens deste mundo.

2º. Ele os constitui senhores dos outros seus irmãos, os
réprobos, embora esta primazia nem sempre se manifeste neste
mundo, que passa num momento (1 Cor 7, 31). Neste mundo
são muitas vezes os réprobos que dominam: “Os pecadores
se vangloriarão com discursos e se exaltarão” (Sl 93, 3-4).

“Vi o ímpio exaltado e elevado” (Sl 36, 35). Mas essa primazia
não deixa, por isso, de ser verdadeira, e aparecerá manifestamente
no outro mundo, pela eternidade afora. Lá os justos,
no dizer do Espírito Santo, “dominarão e imperarão sobre
as nações” (Sb 3, 8).

3º. Sua Majestade não se contenta só com abençoar as
suas pessoas e os seus bens, mas estende a sua bênção a quantos
os abençoarem, e a sua maldição a todos os que os amaldiçoarem
e perseguirem (Gn 27, 29).



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