terça-feira, 2 de maio de 2017

Tratado - Dia #23L - 2ª Semana


Jacó, figura dos Predestinados 

191. 1) Jacó, o mais novo, era de compleição fraca, manso,
pacífico, e estava habitualmente em casa, para merecer a estima
de sua mãe Rebeca, a quem amava ternamente. Se acaso
saía, não era por sua própria vontade, nem pela confiança que
tinha nas suas habilidades, mas para obedecer à sua mãe.

192. 2) Amava e honrava sua mãe, pelo que ficava em casa
junto dela. A sua maior alegria era vê-la, evitava tudo o que
lhe pudesse desagradar e fazia tudo o que julgava que lhe
dava gosto. Tudo isto aumentava o amor que Rebeca lhe consagrava.

193. 3) Em todas as coisas se mostrava submisso à sua querida
mãe, obedecendo-lhe inteiramente em tudo, prontamente
sem demora, e amorosamente sem se queixar. Ao menor
sinal da sua vontade, o pequenino Jacó corria e trabalhava.

Acreditava, sem raciocinar, em tudo o que Rebeca lhe dizia.

Por exemplo, quando ela o mandou ir buscar dois cabritos, a
fim de preparar de comer para Isaac, Jacó não lhe objetou que
bastava um para a refeição duma só pessoa, mas, sem discutir,
fez o que ela lhe dissera.

194. 4) Tinha uma confiança sem limites na sua querida mãe.

Como não se fiava de modo algum no seu próprio saber, apoiava-se unicamente nos cuidados e proteção da mãe. Chamava
por ela em todas as necessidades e consultava-a em todas as
dúvidas. Por exemplo, quando lhe perguntou se, em vez da
bênção, não receberia a maldição do pai, acreditou e confiou
nela quando ela lhe disse que tomaria sobre si essa maldição.

195. 5) Finalmente, imitava, na medida das suas forças, as
virtudes que via em sua mãe. Parece que uma das razões por
que permanecia sedentário, em casa, era o querer imitar a mãe,
que era tão virtuosa, e fugir das más companhias, que corrompem
os costumes. Por este meio, tornou-se digno de receber
a dupla bênção de seu querido pai.

196. Esta é também a conduta dos eleitos na vida de cada dia:

1) Conservam-se em casa com sua mãe. Quer dizer que
gostam do retiro, são interiores e dão-se à oração. Mas fazem
isto seguindo o exemplo e em companhia de sua mãe, a Virgem
Santíssima, cuja glória reside toda no interior e que, durante
toda a vida, tanto amou o retiro e a oração.

É verdade que aparecem algumas vezes no mundo, mas
é para obedecer à vontade de Deus e de sua querida Mãe, para
cumprir os seus deveres de estado. Por maiores que sejam, na
aparência, as coisas que fazem exteriormente, estimam muito
mais as coisas que fazem dentro de si, no interior, em companhia
da Santíssima Virgem. É aí que realizam a grande obra
da sua perfeição, em comparação com a qual todas as outras
não passam de jogos de criança.

Seus irmãos e irmãs trabalham exteriormente com muita
força, habilidade e sucesso, no meio do louvor e aplauso do
mundo. Mas eles sabem, pela luz do Espírito Santo, que há
muito mais glória, vantagem e prazer em permanecer escondidos
no recolhimento com Jesus, seu modelo, numa inteira e
perfeita submissão à sua Mãe.

Sabem que isto vale muito mais que efetuar no mundo,
por si mesmos, maravilhas de natureza e de graça, como tantos
Esaús e condenados. “A glória de Deus e a riqueza dos
homens encontraram-se na casa de Maria” (Sl 111, 3).

Senhor Jesus, como são amáveis os Vossos
tabernáculos! O passarinho achou a casa onde morar, e a rola
um ninho onde abrigar os seus filhinhos. Oh! Como é feliz o
homem que habita em casa de Maria, onde Vós fostes o primeiro
a habitar! É nesta morada dos predestinados que o homem
recebe socorro de Vós somente, e que dispõe no seu
coração as ascensões e graus de todas as virtudes, a fim de se
elevar à perfeição neste vale de lágrimas. “Quão deliciosas
as Vossas moradas!” (Sl 83, 1-8).

197. 2) Os eleitos amam ternamente e honram de verdade a
Santíssima Virgem, como sua boa Mãe e Senhora. Amam-na
não só com os lábios, mas em verdade; honram-na não só
exteriormente, mas no fundo do coração. Evitam, como Jacó,
tudo o que pode desagradar-lhe, praticam fervorosamente tudo
o que julgam poder atrair a sua benevolência. Trazem-lhe e
dão-lhe não dois cabritos, como Jacó a Rebeca, mas o corpo e
a alma, com tudo o que deles depende, e que estavam figurados
nos dois cabritos de Jacó. E isto eles fazem:

1º. Para que Ela os receba como coisa que lhe pertence;

2º. Para que os mate e faça morrer para o pecado e para
si mesmos, despojando-os da sua própria pele e do seu amor
próprio. É por este meio que agradam a seu Filho Jesus, que
só quer para serem Seus amigos e discípulos os que estão
mortos a si mesmos;

3º. Para que Ela os prepare segundo o gosto do Pai
celeste e para a sua maior glória, que Ela conhece melhor do
que nenhuma outra criatura;

4º. Para que esse corpo e essa alma, por Seus cuidados
e intercessão bem purificados de toda mancha, bem mortos,
bem despojados e preparados, sejam um manjar delicado, digno
do paladar e da benção do Pai celeste.

Não é isto o que hão de fazer as almas predestinadas,
que apreciem e pratiquem a consagração perfeita a Jesus Cristo
pelas mãos de Maria, que nós ensinamos, querendo assim
mostrar a Jesus e a Maria um amor efetivo e corajoso?

Os réprobos dizem bastante que amam Jesus, que amam
e honram Maria, mas não com sua substância e todos os seus
haveres (Pr 3, 9), e não até o ponto de lhes sacrificar o corpo
com seus sentidos e a alma com as suas paixões, como os
predestinados.

198. 3) Os eleitos são submissos e obedientes à Santíssima
Virgem, como à sua boa Mãe. Nisto seguem o exemplo de
Jesus Cristo, que, dos trinta e três anos que viveu na Terra,
empregou trinta a glorificar seu Pai por uma perfeita e inteira
submissão à sua Santa Mãe. Obedecem-lhe seguindo exatamente
os Seus conselhos, como o pequeno Jacó seguia os de
Rebeca, que lhe disse: “Meu filho, segue os meus conselhos”
(Gn 27, 8). Obedecem-lhe ainda como os convidados das bodas
de Caná, a quem a Santíssima Virgem disse: “Fazei tudo
o que meu Filho vos disser” (Jo 2, 5). Por ter obedecido à sua
mãe, Jacó recebeu a benção como por milagre, visto que por
natureza não lhe cabia. E os convidados das bodas de Caná,
por terem seguido o conselho da Virgem Santíssima, foram
honrados com o primeiro milagre de Jesus Cristo, que aí transformou
a água em vinho a pedido de sua Mãe.

De igual modo, todos os que até o fim dos séculos receberem
a benção do Pai celeste e forem honrados com as
maravilhas de Deus, não receberão essas graças senão em conseqüência
da sua perfeita obediência a Maria. Os Esaús, pelo
contrário, perdem a benção por falta de submissão à Santíssima
Virgem.

199. 4) Os eleitos têm uma grande confiança na bondade e
no poder da Virgem Santíssima, sua boa Mãe. Reclamam sem
cessar o seu socorro; consideram-na como a sua estrela polar,
que os levará a bom porto; descobrem-lhe as suas penas e
necessidades, com muita abertura de coração; confiam nas
suas entranhas de misericórdia e doçura para, por sua intercessão,
alcançar o perdão de seus pecados, ou para saborear
as suas doçuras maternais em meio às penas e sofrimentos;
lançam-se mesmo, escondem-se e perdem-se duma forma admirável
no seu seio amoroso e virginal, para serem abrasados
do Puro Amor, para aí serem purificados das menores
manchas, e para encontrarem Jesus, que aí reside como em
seu mais glorioso trono. Oh! Que ventura! “Não julgueis que
haja maior felicidade em habitar no seio de Abraão que no
seio de Maria, pois o Senhor aí colocou o seu Trono”, diz o
abade Guerric.

Os réprobos, ao contrário, põem toda a sua confiança
em si mesmos. Não comem senão o alimento dos porcos como
o filho pródigo; não se alimentam senão de Terra como os
sapos, e só amam as coisas visíveis e exteriores como os mundanos.

Não apreciam as doçuras do seio e das entranhas de
Maria. Não sentem um certo apoio e uma certa confiança que
os predestinados sentem para com a Santíssima Virgem, sua
boa Mãe. Amam miseravelmente a sua fome das coisas exteriores
- como diz São Gregório -, porque não querem provar a
doçura que lhes está preparada dentro de si mesmos e dentro
de Jesus e de Maria.

200. 5) Finalmente, os predestinados seguem os caminhos
da Santíssima Virgem, sua boa Mãe. Isto é, imitam-na, e é
nisto que consiste verdadeiramente a sua felicidade e devoção.

É este o sinal infalível da sua predestinação como lhes
assegura esta boa Mãe: “Bem-aventurados os que praticam
as minhas virtudes e caminham nas pegadas da minha vida,
com o auxílio da divina graça” (Pr 8, 32).

São felizes neste mundo, durante a vida, pela abundância
das graças e doçuras que da minha plenitude lhes comunico
mais abundantemente que àqueles que não me imitam de
tão perto. São felizes na morte, que é doce e tranqüila, e a que
assisto ordinariamente, para os conduzir, eu mesma, às alegrias
eternas. Finalmente, serão felizes na eternidade, porque
nunca nenhum dos meus servos dedicados, que imitou as minhas
virtudes durante a vida, se veio a perder.

Os réprobos, pelo contrário, são infelizes durante a
vida, na morte e na eternidade, porque não imitam as virtudes
de Maria. Contentam-se tão somente de pertencer a alguma
de suas confrarias, de recitar qualquer prece em sua honra,
ou de realizar alguma outra devoção externa.

Ó Santíssima Virgem, minha boa Mãe, como são felizes
- repito-o num transporte de íntima alegria -, como são
felizes aqueles e aquelas que, não se deixando seduzir por
uma falsa devoção para convosco, seguem fielmente os Vossos
caminhos, os Vossos conselhos e as Vossas ordens! Mas
quão desgraçados e malditos aqueles que, abusando da Vossa
Devoção, não guardam os mandamentos de Vosso Filho: “Malditos
todos aqueles que se afastam dos Vossos mandamentos”
(Sl 118, 21).



Nenhum comentário:

Postar um comentário