sábado, 29 de abril de 2017

Tratado - Dia #20L - 2ª Semana



Artigo Sexto 

Esta Devoção dá uma grande liberdade de espírito 

169. Sexto motivo. Esta prática de Devoção dá uma grande
liberdade interior àqueles que a observam fielmente. É a liberdade
dos filhos de Deus (Gl 5, 1-13; 2 Cor 3, 17; Rm 8, 21). Como por esta Devoção nos tornamos escravos de Jesus
Cristo, consagrando-nos totalmente a Ele nesta qualidade, este
bom Mestre recompensa o cativeiro amoroso em que nos colocamos
da seguinte maneira:

- Tira da alma todo escrúpulo e temor servil, que só
servem para a estreitá-la, escravizá-la e confundi-la;

- Dilata o coração para uma santa confiança em Deus,
fazendo-o ver n'Ele seu Pai;

- Inspira-lhe um amor terno e filial.

170. Sem me deter em provar esta verdade por meio de razões,
contento-me em citar um fato histórico que li na vida da
Madre Inês de Jesus. Era religiosa jacobina do convento de
Langeac, em Auvergne, e faleceu nesse mesmo local em odor
de santidade no ano de 1634. Ainda não tinha mais de sete
anos quando já sofria de grandes penas do espírito. Foi então
que ouviu uma voz dizer-lhe que, se desejava ser livre de
todas as suas penas e protegida contra todos os seus inimigos,
deveria tornar-se o mais depressa possível escrava de
Jesus e de sua Santa Mãe. Mal regressou a casa, deu-se inteiramente
como escrava a Jesus e à sua Santa Mãe, embora não
conhecesse até aquela data esta Devoção. Tendo encontrado
uma cadeia de ferro, cingiu-se com ela sobre os rins e usou-a
até a morte. Depois desta ação cessaram todas as suas penas e
escrúpulos. Ficou em tanta paz e liberdade de coração que
ensinou esta prática a várias pessoas - que nela fizeram grandes
progressos - entre outros ao Pe. M. Olier, fundador do Seminário
de São Sulpício, e a outros sacerdotes e eclesiásticos do
mesmo seminário. Um dia apareceu-lhe a Santíssima Virgem
e pôs-lhe ao pescoço uma cadeia de ouro, testemunhando-lhe
assim a alegria que sentia por ela se ter feito escrava sua e de
seu Filho. Santa Cecília, que acompanhava a Santíssima Virgem,
disse-lhe: Felizes os fiéis escravos da Rainha do Céu,
porque gozarão a verdadeira liberdade: Ó Mãe, servir-Vos é
a liberdade!

Artigo Sétimo 

Esta Devoção causa grandes vantagens para o próximo 

171. Sétimo motivo. Outro motivo que nos pode comprometer 
a abraçar esta Devoção são os grandes bens que dela
receberá nosso próximo. Por esta prática exercemos a caridade
para com ele duma maneira eminente, pois damos-lhe, pelas
mãos de Maria, o que temos de mais caro, ou seja, o valor
satisfatório e impetratório de todas as nossas boas obras, sem
excluir o mínimo bom pensamento ou o mais leve sofrimento.

Consentimos que todas as satisfações que adquirimos e havemos
de adquirir até a morte sejam aplicadas, segundo a vontade da
Santíssima Virgem, ou pela conversão dos pecadores, ou pela
libertação das almas do Purgatório.

Não será isto amar perfeitamente o nosso próximo? (Jo 15, 13). Não é isto ser verdadeiro discípulo de Jesus Cristo,
que se reconhece pela caridade? (Jo 13, 35). Não é este o
meio de converter os pecadores sem perigo de vaidade, e de
libertar as almas do Purgatório quase sem fazer mais nada
além do que nos impõem os deveres de estado?

172. Para se apreciar a excelência deste sétimo motivo seria
preciso conhecer o bem que é a conversão dum pecador ou a
libertação duma alma do Purgatório. É um bem infinito, maior
do que criar o Céu e a Terra, pois é dar a uma alma a
posse de Deus. Quando por esta prática se livrasse apenas
uma alma do Purgatório, durante toda a vida, ou se convertesse
apenas um pecador, não bastaria isso para levar todo homem
verdadeiramente caridoso a abraçá-la?

Mas é preciso notar que as nossas boas obras, passando
pelas mãos de Maria, recebem um aumento de pureza e,
por conseguinte, de mérito e de valor satisfatório e
impetratório. Tornam-se assim muito mais eficazes para aliviar
as almas do Purgatório e converter os pecadores do que
se não passassem pelas mãos virginais e generosas de Maria.

O pouco que por Ela se dá, sem vontade própria e com uma
caridade muito desinteressada, torna-se verdadeiramente poderoso
para aplacar a cólera de Deus e atrair a sua misericórdia.

Na hora da morte verificar-se-á que uma pessoa realmente
fiel a esta prática, terá livrado, por este meio, muitas almas
do Purgatório e convertido muitos pecadores, embora só tenha
praticado as ações ordinárias do seu estado. Que alegria no
momento do juízo! Que glória para a eternidade!


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