sexta-feira, 28 de abril de 2017

Tratado - Dia #19L - 1ª Semana


IV. Caminho Seguro 

159. Esta Devoção à Santíssima Virgem é um caminho seguro
para ir a Jesus Cristo e alcançar a perfeição, unindo-nos
a Ele.

1º. Porque esta prática de Devoção que ensino não é
de modo algum nova. Como afirma M. Boudon, falecido há
pouco em odor de santidade, numa obra que escreveu sobre
esta Devoção, ela é tão antiga que não se lhe pode marcar
com precisão o início. É certo, no entanto, que há mais de 700
anos se encontram vestígios dela na Igreja.

Santo Odilão, abade de Cluny, que viveu cerca do ano
de 1040, foi um dos primeiros a praticar publicamente esta
Devoção na França, como se vê na sua vida.

O Cardeal Pedro Damião refere que no ano de 1016 o
bem-aventurado Marinho, seu irmão, se fez escravo da
Santíssima Virgem, na presença do seu diretor e duma maneira
muito edificante: pôs uma corda ao pescoço, tomou a disciplina, e colocou sobre o altar uma soma de prata, como sinal
da sua dedicação e consagração à Santíssima Virgem. Manteve-se tão fiel a este ato durante toda a vida que mereceu, na
hora da morte, ser visitado e consolado pela sua amável Soberana,
e receber dos Seus lábios a promessa do paraíso, como
recompensa dos seus serviços.

Cesário Bolando faz menção dum ilustre cavaleiro,
Valter de Birbak, parente próximo dos duques de Lovaina,
que, por volta de 1300, fez esta consagração de si mesmo à
Santíssima Virgem.

A mesma Devoção foi praticada por muitos particulares
até o século XVII, em que se tornou pública.

160. O Padre Simão de Roias, da Ordem da Trindade, também
chamada da Redenção dos Cativos, pregador do rei Filipe
III, pôs em voga esta Devoção em toda a Espanha e na
Alemanha. Obteve de Gregório XV, a instâncias de Filipe III,
grandes indulgências para todos aqueles que a praticassem.

O Padre de Los Rios, da Ordem de Santo Agostinho,
aplicou-se com o Padre de Roias, seu íntimo amigo, a difundir
esta Devoção, por meio de seus escritos e pregações, na
Espanha e na Alemanha. Compôs um grosso volume intitulado
“Hierarchia Mariana”, em que trata, com tanta piedade e erudição,
da antiguidade, excelência e solidez desta Devoção.

161. No século passado, os Reverendos Padres Teatinos estabeleceram
esta Devoção na Itália, na Sicília e na Sabóia.

O Padre Estanislau Falácio, da Companhia de Jesus,
promoveu maravilhosamente esta Devoção na Polônia.

O Padre de Los Rios, no livro já citado, refere o nome
dos príncipes, princesas, duques e cardeais, de vários reinos,
que abraçaram esta Devoção.

O Padre Cornélio a Lápide, tão louvável por sua piedade
como por sua profunda ciência, foi encarregado, por diversos
bispos e teólogos, de examinar esta Devoção. Depois
de maduro exame teceu-lhe louvores dignos da sua piedade,
no que foi seguido por muitas outras grandes personalidades.

Os Reverendíssimos Padres Jesuítas, sempre zelosos
no serviço da Santíssima Virgem, apresentaram ao duque
Fernando de Baviera, então Arcebispo de Colônia, em nome
dos congregacionistas da mesma cidade, um pequeno tratado
sobre a dita Devoção. Aquele prelado deu-lhe a sua aprovação
e a licença de o imprimir, e exortou todos os párocos e
religiosos da sua diocese a propagar esta sólida Devoção, na
medida das suas forças.

162. O Cardeal de Bérulle, cuja memória é abençoada em
toda a França, foi um dos mais zelosos em espalhar a mesma
Devoção neste país, apesar de todas as calúnias e perseguições
que lhe levantaram os críticos e os libertinos. Acusaram-no
de inovação e de superstição. Escreveram e publicaram
contra ele um folheto difamatório e serviram-se, (ou antes,
fê-lo o demônio por intermédio deles), de mil estratagemas
para o impedir de propagar esta Devoção na França. Mas este
grande e santo homem respondeu às calúnias só com a sua
paciência, e às objeções, contidas no referido libelo, com um
pequeno escrito em que as refuta vigorosamente. Nesse escrito
mostra como esta Devoção se funda no exemplo de Jesus
Cristo, nas nossas obrigações para com Ele e nas promessas
que fizemos no Batismo. É particularmente com esta última
razão que fecha a boca aos seus adversários. Faz-lhes ver que
esta consagração à Santíssima Virgem e, por suas mãos, a
Jesus Cristo, não é mais que a perfeita renovação das promessas
do Batismo. Diz coisas muito belas sobre esta prática,
como se poderá ver nas suas obras.

163. O livro de M. Boudon, já citado (n. 159), refere os nomes
dos diversos Papas que aprovaram esta Devoção, os teólogos
que a examinaram, as perseguições que suportou e venceu,
e os milhares de pessoas que a abraçaram, sem que jamais
Papa algum a tenha condenado. Nem seria possível fazê-lo
sem derrubar os próprios fundamentos do Cristianismo.

Consta, pois, que esta Devoção não é nova. E se não é
muito comum, é por ser preciosa demais para ser apreciada e
praticada por todo o mundo.

164. 2º. Esta Devoção é um meio seguro para ir a Jesus Cristo,
porque é próprio da Santíssima Virgem conduzir-nos com
segurança a Ele, como é próprio de Jesus conduzir-nos seguramente
ao Eterno Pai. E que os espirituais não caiam no erro
de pensar que Maria seja um impedimento para chegar à união
divina. Seria possível que Aquela que achou graça diante de
Deus, para todos em geral e para cada um em particular, fosse
obstáculo a uma alma para encontrar a grande graça da união
com Deus? Seria possível que Maria pudesse impedir uma
alma de se unir perfeitamente a Deus, visto que Ela foi cheia
e superabundou em graças, e que viveu tão unida e transformada
em Deus que Ele teve de se encarnar n'Ela?

É bem verdade que a visão de outras criaturas, embora
santas, poderia talvez retardar a união divina em certas circunstâncias,
mas jamais Maria, como já disse e não me cansarei
de repetir. Uma das razões porque tão poucas almas
atingem a plenitude da idade de Jesus Cristo é que Maria,
que é, hoje como sempre, a Mãe do Filho e a Esposa fecunda
do Espírito Santo, não está suficientemente formada nos corações.

Quem deseja possuir o fruto bem maduro e formado
deve ter a árvore que o produz. Quem deseja o fruto de vida,
Jesus Cristo, deve ter a árvore de vida, que é Maria. Quem
quer ter em si a ação do Espírito Santo, deve ter a sua fiel e
indissolúvel Esposa, Maria Santíssima, que o torna fértil e
fecundo, como já dissemos noutro lugar (nn. 20-21).

165. Estejamos, portanto, certos de que quanto mais presente
tivermos Maria nas nossas orações, contemplações,
ações e sofrimentos - se não puder ser de um modo distinto e
preceptível, que seja pelo menos de uma maneira geral e implícita
-, tanto mais perfeitamente encontraremos Jesus Cristo.

Ele está sempre em Maria, grande, poderoso, operante e
incompreensível, mais que no Céu ou em qualquer outra criatura
do universo. Assim, Maria Santíssima, toda mergulhada
em Deus, está bem longe de se tornar um obstáculo para os
perfeitos chegarem à união com Deus. Aliás, é todo o contrário:
não houve até hoje nem jamais haverá criatura alguma
que nos ajude mais eficazmente nesta grande obra, seja pelas
graças que para este efeito nos comunica - pois como diz um
santo, “ninguém é cheio do pensamento de Deus senão por
Ti” -, seja por garantir-nos contra o espírito maligno em suas
ilusões e trapaças.

166. Lá onde está Maria, não pode estar o espírito maligno.
Um dos sinais infalíveis de que uma alma é conduzida
pelo bom espírito é que possua uma grande Devoção a Maria,
e que pense e fale n'Ela. É esta a opinião dum santo, que
acrescenta que assim como a respiração é um sinal certo de
que o corpo não está morto, assim o pensamento freqüente e
a amorosa invocação de Maria é a prova de que a alma não
está morta pelo pecado.

167. Diz a Igreja, e o Espírito Santo que a conduz, que “só
Maria esmagou todas as heresias deste mundo”. Por isso um
fiel devoto de Maria nunca cairá na heresia ou na ilusão, pelo
menos formalmente, por mais que os críticos resmunguem.

Poderá sim errar materialmente, tomar por verdade uma mentira
e por bom o espírito maligno, ainda que mais dificilmente
que qualquer outra pessoa. Mas, mais cedo ou mais tarde,
conhecerá a sua falta e o seu erro material, e quando o conhecer
não se obstinará de forma alguma em crer ou sustentar o
que tinha julgado verdadeiro.

É um caminho traçado por Jesus 

168. Portanto, todo aquele que, sem temor de ilusão, comum
às pessoas de oração, quiser avançar no caminho da
perfeição e encontrar com segurança e perfeitamente Jesus
Cristo, abrace de coração dilatado (2 Mac 1, 3) esta
Devoção à Santíssima Virgem, que talvez ainda não conheça.

Que entre neste excelente caminho que não conhecia
e que lhe indico (1 Cor 12, 31), pois é o caminho aberto
por Jesus Cristo, a Sabedoria Encarnada, nosso único
Chefe, e os membros que o trilharem não podem enganarse.

É um caminho fácil, devido à plenitude de graça e
de unção do Espírito Santo que o enche. Quem por ele
caminha não se cansa nem recua.

É um caminho curto, que em pouco tempo nos leva a
Jesus Cristo.

É um caminho perfeito, onde não há lama nem poeira,
nem a menor impureza de pecado.
Enfim, é um caminho seguro, que nos conduz a Jesus
Cristo e à Vida Eterna, reta e seguramente, sem desvios nem
para a direita nem para a esquerda.

Entremos neste caminho, e avancemos por ele, noite e
dia, até a plenitude da idade de Jesus Cristo.


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