quinta-feira, 27 de abril de 2017

Tratado - Dia #18L - 1ª Semana


Artigo Quarto 

Esta Devoção é um meio excelente para procurar a maior glória de Deus 

151. Quarto motivo. Esta Devoção, fielmente praticada, é
um meio excelente para fazer com que o valor de todas as
nossas boas obras seja utilizado para a maior glória de Deus.

Quase ninguém age por este fim tão nobre - embora a isso
estejamos obrigados -, seja por não saber em que consiste a
maior glória de Deus, seja por não a querer. Mas a Santíssima
Virgem, a quem cedemos o valor e o mérito das nossas boas
obras, sabe perfeitamente onde reside a maior glória de Deus
e não faz nada sem ser para esse fim. Por isso um perfeito
servo desta Rainha, inteiramente consagrado a Ela da forma
que dissemos, pode dizer corajosamente que o valor de todas
as suas ações, pensamentos e palavras é empregado para a
maior glória de Deus, a não ser que expressamente revogue
o seu oferecimento.

Poderá haver algo mais consolador para uma alma que
ama a Deus, com um amor puro e desinteressado, e que estima
a glória e os interesses divinos mais do que os seus próprios
interesses?!

Artigo Quinto 

Esta Devoção conduz à união com Nosso Senhor 

152. Quinto motivo. Esta Devoção é um caminho fácil, curto, 
perfeito e seguro para chegar à união com Deus, na qual
consiste a perfeição cristã.

I. Caminho Fácil 

É um caminho fácil que Jesus Cristo abriu ao vir até 
nós, e onde não se encontra obstáculo algum para chegar até
Ele. Pode-se, na verdade, chegar à união divina por outros
caminhos, mas será por muito mais cruzes e mortes misteriosas,
com muito mais dificuldades, que só a custo serão
vencidas. Será preciso passar por noites escuras, por combates
e agonias misteriosas, por cima de montanhas escarpadas,
por cima de espinhos muito agudos e por desertos horríveis.

Mas pelo caminho de Maria passa-se mais suave e tranqüilamente.
Também aqui se encontram, é certo, rudes combates a
travar e grandes dificuldades a vencer. Mas esta boa Mãe e
Senhora torna-se tão presente e tão próxima dos Seus fiéis
servos para os iluminar nas suas trevas, esclarecer nas suas
dúvidas, confirmar no meio dos seus temores, sustentar nas
lutas e dificuldades, que este caminho virginal para encontrar
Jesus Cristo é realmente um caminho de rosas e mel à vista
dos outros. Houve alguns santos, mas em pequeno número,
como Santo Efrém, São João Damasceno, São Bernardo, São
Bernardino, São Boaventura, São Francisco de Sales etc., que
passaram por este caminho ameno para ir a Jesus Cristo. O
Espírito Santo, Esposo fiel de Maria, tinha-lho indicado por
uma graça singular. Os outros santos, porém, que são em maior
número, embora todos tenham sido devotos da Santíssima
Virgem, não entraram, ou entraram muito pouco, nesta via.

Foi por isso que sofreram provas mais rudes e perigosas. 

153. Mas então donde vem, dir-me-á algum fiel servo de
Maria, que os servos fiéis desta boa Mãe têm tantas ocasiões
de sofrer, e mais até do que outros que d'Ela não são tão devotos?

Contradizem-nos, perseguem-nos, caluniam-nos, não os
suportam; ou, ainda, caminham em trevas interiores e por desertos
onde não há a mínima gota do orvalho celeste. Se esta
Devoção à Santíssima Virgem torna mais fácil o caminho que
conduz a Jesus Cristo, donde vem que sejam eles os mais
crucificados?

154. Respondo-lhes: É bem verdade que os mais fiéis servos
da Santíssima Virgem são os Seus maiores favoritos. Por
isso são eles que recebem d'Ela as maiores graças e favores
do Céu, a saber, as cruzes. Mas sustento que são também os
servos de Maria que levam essas cruzes com mais facilidade,
com maior mérito e glória. Aquilo que deteria mil vezes outras
almas, ou as faria cair, não os detém nem uma só vez e fálos
avançar. É que esta Mãe, toda cheia de graça e de unção
do Espírito Santo, adoça todas estas cruzes que lhes prepara,
no mel da sua Doçura Materna e na unção do Puro Amor.

Deste modo eles recebem-nas alegremente como nozes cobertas
de açúcar, ainda que em si sejam muito amargas.

Uma pessoa que deseja ser devota e viver piedosamente
em Jesus Cristo, conseqüentemente há de sofrer perseguição
e levar todos os dias a sua Cruz (Lc 9, 23). Julgo que tal pessoa
nunca levará grandes cruzes ou não as levará alegremente,
nem até o fim, sem possuir uma terna devoção à Santíssima
Virgem, que é a doçura das cruzes. Do mesmo modo ninguém
poderá comer, sem se fazer grande violência, que não será
muito duradoura, nozes verdes que não sejam adoçadas em
açúcar.

II. Caminho Curto 

155. Esta Devoção à Santíssima Virgem é um caminho curto
para encontrar Jesus Cristo, quer porque ninguém se perde
nele, quer porque, como acabo de dizer, se avança por ele
com mais alegria e facilidade e, portanto, com mais prontidão.

Avança-se mais, em pouco tempo de submissão e dependência
para com Maria, que durante anos inteiros de vontade
própria e de apoio em si mesmo. Pois o homem obediente
e submisso a Maria Santíssima cantará vitórias notáveis
sobre todos os seus inimigos (Pr 21, 28). Quererão estes impedi-lo de caminhar, fazê-lo recuar ou cair, é verdade. Mas,
com o apoio, a ajuda e a guia de Maria, sem cair, sem recuar
e mesmo sem se atrasar, avançará a passos de gigante para
Jesus Cristo, pelo mesmo caminho por onde, como está escrito,
Jesus veio até nós a passos de gigante e em pouco tempo
(Sl 18, 6).

156. Por que julgais que Jesus Cristo viveu tão pouco tempo na Terra e que, nos poucos anos que nela passou, viveu
quase sempre em submissão e obediência à sua Mãe? Ah! É
que, tendo morrido cedo, viveu muito (Sb 4, 13) - e muito
mais que Adão, cujas perdas vinha reparar, embora este vivesse
mais de novecentos anos. E Jesus Cristo viveu muito
porque viveu bem unido e submisso à sua Santa Mãe, para
obedecer a Deus seu Pai. E é assim pelas seguintes razões:

1ª. Aquele que honra sua mãe é semelhante ao homem
que ajunta tesouros, como diz o Espírito Santo. Isto é, aquele
que honra Maria, sua Mãe, até se submeter a Ela, a obedecer-lhe
em todas as coisas, tornar-se-á em breve muito rico, pois amontoa
diariamente tesouros, pelo segredo desta pedra filosofal:

“Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua
mãe” (Eclo 3, 5).

2ª. É no seio de Maria, que encerrou e gerou um homem
perfeito e que pôde conter Aquele que nem o universo
inteiro pode compreender nem conter, é no seio de Maria,
digo, que os jovens se tornam velhos anciãos em luz, em santidade,
em experiência e em sabedoria, e que atingem em poucos
anos a plenitude da idade de Jesus Cristo. Isto baseia-se numa
interpretação espiritual da seguinte palavra do Espírito Santo:
“A minha velhice está na misericórdia do seio” (Sl 91, 11).

III. Caminho Perfeito 

157. Esta prática de Devoção à Santíssima Virgem é um caminho
perfeito para ir e para se unir a Jesus Cristo, porque
Maria Santíssima é a mais perfeita e a mais Santa das puras
criaturas, e Jesus Cristo, que veio a nós de maneira perfeita,
não escolheu outro caminho para a sua grande e admirável
viagem.

O Altíssimo, o Incompreensível, o Inacessível, Aquele
que é (Ex 3, 14), quis vir a nós, pequeninos vermes da Terra,
que nada somos. E como se fez isto?

O Altíssimo desceu perfeita e divinamente até nós por
meio da humildade de Maria, sem nada perder da sua divindade
e santidade. É igualmente por Maria que os pequeninos devem
subir, perfeita e divinamente, ao Altíssimo, sem nada temer.

O Incompreensível deixou-se compreender e conter perfeitamente
pela humilde Maria, sem nada perder da sua imensidade.

É também por Maria que nos devemos deixar conter e
conduzir perfeitamente, sem nenhuma reserva.

O Inacessível aproximou-se, uniu-se estreitamente e
até pessoalmente à nossa humanidade por intermédio de Maria,
sem nada perder da sua majestade. É também por Maria
que nos devemos aproximar de Deus e unir-nos à Divina Majestade
perfeita e estreitamente, sem receio de sermos repelidos.

Enfim, Aquele que é quis vir ao que não é, e fazer que
o que não é se transforme em Deus ou naquele que é. Deus fê-lo
perfeitamente, dando-se e submetendo-se inteiramente à
jovem Virgem Maria, sem deixar de ser, no tempo, Aquele
que é desde toda a eternidade. É ainda por Maria que nos
podemos tornar semelhantes a Deus pela graça e pela glória,
embora nada sejamos. Basta entregarmo-nos a Ela tão perfeita
e inteiramente que já nada sejamos em nós mesmos, mas
tudo n'Ela, sem receio de nos enganarmos.

158. Abram-me um caminho novo para ir a Jesus Cristo,
calcetado com todos os méritos dos bem-aventurados, ornado
com todas as suas virtudes heróicas, iluminado e enfeitado
com a luz e a beleza de todos os anjos, e que os anjos todos e
os santos nele se encontrem para conduzir, defender e sustentar
aqueles e aquelas que por ele queiram seguir.

Com certeza absoluta, digo-o ousadamente, e digo a
verdade: eu escolheria, de preferência a este caminho tão perfeito,
o caminho imaculado de Maria (Sl 17, 33), caminho
sem nódoa alguma nem defeito, sem pecado original nem atual,
sem sombras nem trevas.

E quando o meu amável Jesus vier segunda vez à Terra,
em sua glória, (como é certo), para aqui reinar, não escolherá
outro caminho para a sua vinda, senão Maria Santíssima,
por quem veio tão segura e perfeitamente primeira vez. A diferença
que há entre a primeira e a última vinda é que a primeira
foi secreta e escondida, e a segunda será gloriosa e triunfante;
mas são ambas perfeitas, pois ambas por intermédio de
Maria. Ai! Eis um mistério que não se compreende: “Que
toda a língua aqui emudeça!”


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