quarta-feira, 26 de abril de 2017

Tratado - Dia #17L - 1ª Semana


Artigo Terceiro 

Esta Devoção oferece-nos a 
assistência materna da Virgem Maria 

I. Maria se dá ao seu escravo de amor 

144. Terceiro motivo. A Santíssima Virgem, que é uma Mãe
toda doçura e misericórdia, nunca se deixa vencer em amor e
liberdade. Por isso, quando vê que alguém se lhe dá totalmente
para a honrar e servir, despojando-se do que tem de
mais querido para a amar, dá-se também, inteiramente e duma
maneira inefável, a quem tudo lhe deu. Ela submerge-o no
abismo das suas graças, Ela adorna-o com os Seus méritos,
Ela lhe dá o apoio do seu poder, Ela o ilumina com a sua luz,
Ela o abrasa no seu amor, Ela comunica-lhe as suas virtudes:
sua humildade, sua fé, sua pureza, etc. Ela se torna a sua garantia,
seu suplemento e seu tudo perante Jesus. Enfim, como
a alma que se consagrou é toda de Maria, também Maria é
toda dela. Desta maneira pode dizer-se deste fiel servo e filho
de Maria o que São João Evangelista diz de si mesmo, isto é,
que ele recebeu a Virgem Santíssima como todo o seu tesouro:

“O discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19, 27).

145. Isto produz na alma, se for fiel, uma grande desconfiança,
desprezo e ódio de si mesma, e uma grande confiança e
grande abandono à Santíssima Virgem, sua amável Soberana.

Já não se firma, como antes, nas suas disposições, intenções,
méritos, virtudes e boas obras. Porque, tendo feito um sacrifício
completo a Jesus por intermédio desta boa Mãe, já não
tem senão um só tesouro que encerra todos os seus bens e que
já não está em suas mãos, e este tesouro é Maria.

Isso é que faz que a alma se aproxime de Nosso Senhor
sem escrúpulo nem temor servil, e que ela o invoque
com muita confiança. Os seus sentimentos tornam-se semelhantes
aos do piedoso e sábio Padre Pupert. Este, fazendo
alusão à vitória de Jacó sobre o Anjo (Gn 32, 23-33), dirige à
Santíssima Virgem estas palavras: “Ó Maria, minha Princesa
e Mãe imaculada de Deus feito homem, Jesus Cristo, eu
desejo lutar com este Homem, ou seja, com o Verbo Divino,
armado não com os meus próprios méritos, mas com os Vossos”.

Oh! Quão poderoso e forte junto de Jesus Cristo é quem
está armado dos méritos e da intercessões da digna Mãe de
Deus, que vence amorosamente o Todo-Poderoso, como diz
Santo Agostinho!

II. Maria purifica as nossas boas obras 

146. Como nesta Devoção entregamos a Nosso Senhor, pelas 
mãos de sua Santa Mãe, todas as nossas boas obras, esta
amável Senhora purifica-as, embeleza-as e fá-las aceitáveis
para o seu Filho.

1º. Ela os purifica de toda a sujeira do amor próprio e
do apego imperceptível à criatura, que estão insensivelmente
nas melhores ações. E como as mãos da Santíssima Virgem,
nunca manchadas nem ociosas, purificam tudo aquilo em que
tocam, estas mãos tão puras e fecundas tiram do presente que
lhe fazemos tudo o que tiver de estragado ou de imperfeito.

147. 2º. Ela as embeleza e adorna com Seus méritos e virtudes.

É como se um camponês, querendo ganhar a amizade e
benevolência do rei, fosse ter com a rainha e lhe entregasse
uma maçã, que constituísse toda a sua fortuna, a fim de que
ela a apresentasse ao rei. A rainha, depois de recebida a pobre
e pequena oferta do camponês, poria essa maçã numa grande
e bela bandeja de ouro oferecendo-a assim ao rei, em nome
do camponês. E desde então a maçã - por si mesma indigna
de ser apresentada a um rei -, torna-se digna de sua majestade,
em atenção à bandeja de ouro e à pessoa que a presenteia.

148. 3º. Ela apresenta essas boas obras a Jesus Cristo, pois
nada reserva para si do que lhe dão, como se fosse fim, mas
tudo remete fielmente a Jesus. O que se lhe dá, dá-se necessariamente
a Jesus. Se a louvam e glorificam, Ela louva e glorifica
Jesus. Quando a louvam e bendizem, a Santíssima Virgem
canta, como outrora ao ser louvada por Santa Isabel: “A minha
alma glorifica o Senhor” (Lc 1,46).

149. 4º. Ela faz que Jesus aceite essas boas obras, por menores
e mais pobres que sejam, enquanto presente para este
Santo dos santos e Rei dos reis. Quando alguém apresenta a
Jesus alguma coisa em seu próprio nome e apoiado na sua
habilidade e disposição pessoais, Jesus examina o dom, e,
freqüentemente, rejeita-o, por causa da sujeira que contraiu
pelo amor próprio, tal como outrora rejeitou os sacrifícios
dos judeus, repletos que eram de vontade própria (Hb 10, 5-7). Mas quando se lhe apresenta alguma coisa pelas mãos
puras e virginais da sua bem amada Mãe, toca-se-lhe no ponto
fraco, se me é lícito empregar esta expressão. Ele já não
considera tanto o que se lhe dá, como a sua boa Mãe, que lho
apresenta. Não olha tanto para donde lhe vem esse presente,
como para Aquela por quem o recebe. Assim Maria, que jamais
é rejeitada, e é sempre bem acolhida por seu Filho, faz
que sua Majestade receba com agrado tudo quanto lhe apresenta,
seja grande ou pequeno. Basta que Maria a apresente,
para que Jesus receba e aceite. Era o grande conselho que
São Bernardo dava àqueles que conduzia à perfeição: “Quando
quiserdes oferecer alguma coisa a Deus, tende cuidado de
a oferecer pelas mãos muito agradáveis e muito dignas de
Maria, se não quiserdes ser repelidos”.

150. Não é isto mesmo o que a própria natureza inspira aos
pequenos em relação aos grandes, como já vimos? Por que a
graça não nos levaria a fazer o mesmo em relação a Deus, que
está infinitamente acima de nós, e diante de quem somos menos
que um átomo? Temos, além do mais, uma advogada tão poderosa
que nunca é repelida, tão hábil que conhece todos os
segredos para ganhar o Coração de Deus, tão boa e caridosa
que não repele ninguém, por pequeno ou mau que seja. Mais
adiante mostrarei, na história de Rebeca e Jacó, a verdadeira
prefigura das verdades que menciono.


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