domingo, 23 de abril de 2017

Tratado - Dia #14L - 1ª Semana


CAPÍTULO QUARTO 

NATUREZA DA PERFEITA 

DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA 

120. Toda a nossa perfeição consiste em sermos conformes
a Jesus Cristo, em nos unirmos e consagrarmos a Ele. Por
isso, a mais perfeita de todas as devoções é, indubitavelmente,
aquela que nos conforma, nos une e nos consagra mais perfeitamente
a Jesus Cristo. Ora, de todas as criaturas, Maria é a
mais conforme a Ele. Por conseguinte, a Devoção que, dentre
todas as demais, melhor consagra e assemelha uma alma a
Nosso Senhor é a Devoção à Santíssima Virgem, sua Santa
Mãe. E quanto mais uma alma for consagrada a Maria, tanto
mais o será a Jesus Cristo. É por isso que a perfeita consagração
a Jesus Cristo não é mais que uma perfeita e inteira consagração
da alma à Santíssima Virgem. E nisto consiste a
Devoção que ensino ou, por outras palavras, consiste numa
perfeita renovação dos votos e promessas do Santo Batismo.

Artigo Primeiro 

Uma Perfeita e Total Consagração de si mesmo à Santíssima Virgem Maria 

121. Como fica dito, esta Devoção consiste em nos darmos 
inteiramente à Santíssima Virgem, para que por Ela pertençamos
inteiramente a Jesus Cristo. É preciso que dar-lhe:

1º. Nosso corpo, com todos os seus sentidos e membros;

2º. Nossa alma, com todas as suas potências;

3º. Nossos bens exteriores, chamados de fortuna, presentes e futuros;

4º. Nossos bens interiores e espirituais, que são os nossos
méritos, virtudes e boas obras passadas, presentes e futuras.

Numa palavra, devemos dar tudo o que temos na ordem
da natureza e na ordem da graça, e tudo o que podemos
vir a ter no futuro, na ordem da natureza, da graça ou da glória.

E isto sem excetuarmos nada, nem um centavo, nem um
cabelo ou a menor boa ação, e por toda a eternidade, sem
pretendermos esperar outra recompensa pelo nosso oferecimento
e serviços, além da honra de pertencer a Jesus Cristo
por Ela e n'Ela, ainda que esta amável Senhora não fosse, como
é sempre, a mais liberal e agradecida de todas as criaturas.

122. É preciso notar, neste ponto, que há dois aspectos nas
boas obras que fazemos, a saber: a satisfação e o mérito, ou
para melhor dizer, o valor satisfatório ou impetratório e o valor
meritório. O valor satisfatório ou impetratório duma boa
ação consiste em satisfazer a pena devida pelo pecado, ou em
alcançar uma nova graça. O valor meritório, ou mérito, consiste
em uma boa ação merecer a graça e a glória eterna. Ora,
nesta consagração de nós mesmos à Santíssima Virgem, damos-lhe todo o valor satisfatório ou impetratório e o valor
meritório, ou seja, as satisfações e os méritos de todas as nossas
boas obras. Damos-lhe os nossos méritos, as graças e virtudes,
não para comunicá-los a outrem, mas para que, como
depois diremos, Ela no-los conserve, aumente e aperfeiçoe.

Os méritos, graças e virtudes, são, pois, propriamente falando,
inalienáveis. Só Jesus Cristo, tornando-se a nossa garantia
junto do Pai, nos pode comunicar os Seus méritos. Damos-lhe
as nossas satisfações para as comunicar a quem entender
para a maior glória de Deus.

123. Daqui segue:

1º. Que por esta Devoção damos a Jesus Cristo tudo o
que lhe podemos dar. Fazemo-lo da maneira mais perfeita,
visto ser pelas mãos de Maria. E damos assim muito mais do
que pelas outras devoções, em que lhe consagramos parte do
nosso tempo, ou parte das nossas boas obras, ou parte das
nossas satisfações e mortificações. Aqui tudo fica dado e consagrado,
até mesmo o direito de dispor dos bens interiores, e
das satisfações que se ganham com as boas obras de cada
dia. Isto não se pede nem mesmo numa ordem religiosa. Na
vida religiosa, dão-se a Deus os bens de fortuna pelo voto de
pobreza, os bens do corpo pelo voto de castidade, a vontade
própria pelo voto de obediência e, às vezes, a liberdade física
pelo voto de clausura. Mas não se lhe dá a liberdade ou o
direito de dispor do valor das boas obras, não se renuncia,
tanto quanto é possível, ao que o cristão tem de mais precioso e
mais querido que são os seus méritos e satisfações.

124. 2º. Segue ainda que uma pessoa assim, voluntariamente
consagrada e sacrificada a Jesus Cristo por Maria, já não
pode dispor do valor de qualquer das suas boas ações. Tudo o
que sofre, tudo o que pensa, diz e faz de bom, tudo isso pertence
a Maria. Ela pode empregá-lo segundo a vontade de
seu Filho e para a sua maior glória, sem que, todavia, esta
dependência prejudique de algum modo as obrigações do estado
a que essa pessoa atualmente ou no futuro pertença. Por
exemplo, as obrigações dum sacerdote que, por seu ofício ou
por outra razão, deve aplicar o valor satisfatório e impetratório
da Santa Missa a um particular. Pois esta doação total só se
faz conforme a ordem que Deus estabeleceu e os deveres de
estado.

125. 3º. Enfim, segue-se que esta Consagração é feita conjuntamente
à Santíssima Virgem e a Jesus Cristo: à Santíssima
Virgem como ao meio perfeito que Jesus Cristo escolheu para
se unir a nós e nos unir a Ele; a Nosso Senhor como ao nosso
fim último, a quem devemos tudo o que somos, como a nosso
Redentor e nosso Deus.


Nenhum comentário:

Postar um comentário