quinta-feira, 20 de abril de 2017

Tratado - Dia #11L - 12 dias preliminares


11º dia 

CAPÍTULO TERCEIRO 

ESCOLHA DA VERDADEIRA 
DEVOÇÃO À SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA 

90. Postas estas cinco verdades, impõe-se, mais do que 
nunca, fazer uma boa escolha da Verdadeira Devoção à 
Santíssima Virgem, porque há cada vez mais falsas devoções 
a Nossa Senhora, e é fácil tomá-las por verdadeiras. O demônio, 
como falso moedeiro e enganador fino e experimentado, 
já enganou e levou à condenação tantas almas, por meio duma 
falsa devoção a Nossa Senhora, que todos os dias se serve da 
sua experiência diabólica para perder muitas outras. Deleita-as 
e adormece-as no pecado sob pretexto de algumas orações 
mal rezadas e dumas quantas práticas exteriores que lhes inspira.




Assim como um falso moedeiro não falsifica ordinariamente 
senão ouro e prata, e muito raramente outros metais, 
por estes não lhe valerem tal trabalho, também o espírito maligno 
não falsifica tanto as outras devoções, como as que se 
referem a Jesus e a Maria: a devoção à Sagrada Comunhão e 
a Nossa Senhora. Estas são, entre as demais devoções, o que 
são o ouro e a prata entre os metais. 

91. Em razão disso é muito importante conhecer: 
Primeiro as falsas devoções à Santíssima Virgem para 
as evitar, e a verdadeira, para abraçá-la. 

Depois, importa distinguir entre tantas práticas diferentes 
desta última, qual a mais perfeita, a mais agradável à 
Santíssima Virgem Maria, aquela que dá mais glória a Deus e 
que é mais santificante para nós, para a Ela nos apegarmos. 

Artigo Primeiro 

Sinais da falsa devoção e da  
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria 

I. Falsos devotos e falsas devoções  
à Santíssima Virgem Maria 

92. Conheço sete espécies de falsos devotos e falsas devoções, 
a saber:  

1. Os devotos críticos; 

2. Os devotos escrupulosos; 

3. Os devotos exteriores; 

4. Os devotos presunçosos; 

5. Os devotos inconstantes; 

6. Os devotos hipócritas; 

7. Os devotos interesseiros. 



1. Os devotos críticos 

93. Os devotos críticos são, ordinariamente, sábios orgulhosos, 
espíritos fortes e que se bastam a si mesmos. No fundo 
têm alguma devoção à Santíssima Virgem Maria, mas criticam 
quase todas as práticas de devoção que as almas simples 
tributam singela e santamente a esta boa Mãe, porque 
não condizem com a sua fantasia. Põem em dúvida todos os 
milagres e narrações referidas por autores dignos de crédito 
ou tiradas das crônicas de ordens religiosas, e que testemunham 
as misericórdias e o poder da Santíssima Virgem. Vêem 
com desgosto pessoas simples e humildes ajoelhadas diante 
dum altar ou imagem da Virgem, talvez no recanto duma rua, 
para aí rezar a Deus. Acusam-nas até mesmo de idolatria, como 
se estivessem a adorar madeira ou pedra. Dizem que, quanto 
a si, não gostam dessas devoções exteriores, e que não são 
tão fracos de espírito que vão acreditar em tantos contos e 
historietas que correm a respeito da Santíssima Virgem. Quando 
lhes referem os louvores admiráveis que os Santos Padres 
tecem a Nossa Senhora, ou respondem que isso é exagero, ou 
explicam erradamente as suas palavras. Esta espécie de falsos 
devotos e de gente orgulhosa e mundana é muito para 
temer, e causam imenso mal à Devoção a Nossa Senhora, afastando 
eficazmente dela o povo, sob o pretexto de destruir abusos. 



2. Os devotos escrupulosos 

94. Os devotos escrupulosos são pessoas que temem desonrar 
o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao elevar a outra. 
Não podem suportar que se prestem à Santíssima Virgem louvores 
muito justos, tais como os Santos Padres lhe dirigiram. 
Não toleram, senão contrariados, que haja mais pessoas de 
joelhos diante dum altar de Maria que diante do Santíssimo 
Sacramento. Como se uma coisa fosse contrária à outra, como 
se aqueles que rezam a Nossa Senhora não rezassem a Jesus 
Cristo por meio d'Ela! Não querem que se fale tantas vezes da 
Santíssima Virgem, nem que a Ela nos dirijamos tão 
freqüentemente. Eis algumas frases que lhes são habituais: 
Para que servem tantos terços, tantas confrarias e devoções 
externas à Santíssima Virgem? Há muita ignorância nisto tudo! 
Faz-se da religião uma palhaçada. Falem-me dos que têm 
Devoção a Jesus Cristo (freqüentemente pronunciam este 
Santo Nome sem a devida reverência, sem descobrir a cabeça, 
digo-o entre parêntesis). É preciso pregar Jesus Cristo: eis 
a doutrina sólida! 

Isto que dizem é verdadeiro num certo sentido; mas 
quanto à aplicação que disso fazem, para impedir a Devoção 
à Virgem Santíssima, é muito perigoso. Trata-se duma cilada 
do inimigo sob pretexto dum bem maior. Pois nunca se honra 
mais a Jesus Cristo do que quando se honra muito à Santíssima 
Virgem. A razão é simples: só honramos a Virgem no intuito 
de honrar mais perfeitamente a Jesus Cristo, indo a Ela apenas 
como ao caminho que leva ao fim almejado, que é Jesus. 

95. A Santa Igreja, com o Espírito Santo, bendiz em primeiro 
lugar a Virgem e só depois Jesus Cristo: “Bendita sois 
Vós entre as mulheres e bendito é o fruto do Vosso ventre, 
Jesus” (Lc 1, 42). Não é que Maria seja mais que Jesus, ou 
igual a Ele: dizê-lo seria uma heresia intolerável. Mas, para 
mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo, é preciso louvar 
antes a Virgem Maria. Digamos, pois, com todos os verdadeiros 
devotos da Santíssima Virgem, e contra esses falsos devotos 
escrupulosos: Ó Maria, bendita sois Vós entre as mulheres 
e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus! 



3. Os devotos exteriores 

96. Os devotos exteriores são pessoas que fazem consistir 
toda a Devoção à Santíssima Virgem em práticas externas. 
Ficam apenas na exterioridade desta Devoção, por lhes faltar 
espírito interior. Rezarão muitos terços às pressas; ouvirão 
muitas Missas sem atenção; irão sem devoção às procissões; 
entrarão em todas as confrarias de Nossa Senhora sem mudar 
de vida, sem fazer violência às suas paixões, nem imitar as 
virtudes desta Virgem Perfeitíssima. Só apreciam o que há de 
sensível na Devoção, sem atender ao que tem de sólido. Se 
não experimentam prazer sensível nas suas práticas, julgam 
que já não fazem nada, desorientam-se, abandonam tudo, ou 
fazem as coisas precipitadamente. O mundo está cheio desta 
espécie de devotos exteriores, e não há ninguém como eles 
para criticar as almas de oração. Estas aplicam-se ao interior, 
por ser o essencial, sem todavia desprezar a modéstia exterior 
que acompanha sempre a Verdadeira Devoção. 



4. Os devotos presunçosos 

97. Os devotos presunçosos são pecadores entregues às 
suas más paixões, ou amigos do mundo. Sob o belo nome de 
cristãos e devotos da Santíssima Virgem escondem ou o orgulho, 
ou a avareza, ou a impureza, ou a embriaguez, ou a 
cólera, ou a blasfêmia, ou a maledicência, ou a injustiça etc.

Dormem em paz nos seus maus hábitos, sem se esforçar muito 
para os corrigir, sob o pretexto de que são devotos de Nossa 
Senhora. Dizem para consigo mesmos que Deus lhes perdoará, 
que não hão de morrer sem confissão e não serão condenados 
porque rezam o Terço, porque jejuam aos sábados e 
pertencem à confraria do Santo Rosário ou do escapulário, ou 
às suas congregações, ou porque trazem o hábito ou a cadeia 
da Santíssima Virgem etc. 

Se alguém lhes diz que a sua devoção não passa de 
ilusão do demônio e de perniciosa presunção capaz de os condenar, 
não querem acreditar. Dizem que Deus é bom e misericordioso, 
que não nos criou para a condenação, que todos 
pecam, que não morrerão impenitentes, que um bom “Pequei” 
(2 Sm 12, 13; Sl 50) à hora da morte será suficiente. E, para 
mais, são devotos de Nossa Senhora, usam o escapulário, rezam 
diariamente, sem falha e sem vaidade, sete Pai-Nossos e 
sete Ave-Marias em sua honra. E, às vezes, até rezam o Terço 
e o ofício da Santíssima Virgem, e até jejuam! Para confirmar 
o que dizem e para ainda mais se cegarem, citam algumas 
histórias que ouviram ou leram em algum livro, histórias verdadeiras 
ou falsas (isso pouco importa). Nestas se conta como 
pessoas mortas em pecado mortal sem confissão, foram ressuscitadas 
para se confessarem, porque durante a vida tinham 
recitado orações ou praticado alguns atos de devoção à 
Santíssima Virgem. Ou ainda como a alma ficou 
miraculosamente no corpo até a confissão, ou obteve de Deus 
contrição e perdão dos seus pecados no momento da morte 
pela misericórdia da Virgem, sendo assim salva. E estes falsos 
devotos esperam o mesmo. 

98. Nada é tão prejudicial no Cristianismo como esta presunção 
diabólica. Pois poder-se-á dizer, com verdade, que se 
ama e honra a Santíssima Virgem, quando se fere, traspassa, 
crucifica e ultraja impiedosamente Jesus Cristo, seu Filho, 
com o pecado?! Se Maria se comprometesse a salvar, por 
misericórdia, esta espécie de pessoas, autorizaria o crime, ajudaria 
a crucificar e ofender seu Filho! Quem ousará sequer 
pensar coisa semelhante?! 

99. A Devoção à Santíssima Virgem é, depois da Devoção 
a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, a mais santa e a 
mais sólida. Por isso afirmo: abusar assim dela é cometer um 
horrível sacrilégio que, depois do sacrilégio da Comunhão 
indigna, é o menos perdoável de todos. Concordo que, para 
ser verdadeiro devoto da Santíssima Virgem, não é absolutamente 
necessário ser tão santo que se evite todo pecado, embora 
isso fosse de desejar, mas, pelo menos, é preciso (e note-se 
bem o que vou dizer): 

1º. Ter uma sincera resolução de evitar, ao menos, todo 
pecado mortal, que ultraja tanto a Mãe como o Filho. 

2º. Fazer violência contra si mesmo para evitar o pecado. 

3º. Entrar em confrarias, rezar o Terço, o Santo Rosário 
ou outras orações, jejuar aos sábados etc. 

100. Isto é duma utilidade maravilhosa para a conversão dum 
pecador, mesmo endurecido. Se o meu leitor está nesse caso, 
aconselho-o a que o faça, ainda mesmo que já tenha um pé no 
abismo. Faça estas boas obras unicamente com o fim de obter 
de Deus, por intercessão da Santíssima Virgem, a graça da 
contrição e do perdão dos seus pecados, e a graça de vencer 
os seus maus hábitos. Não as faça, porém, pensando que poder-se-á demorar tranqüilamente no estado de pecado, indo 
contra o remorso da sua consciência,o exemplo de Jesus Cristo 
e dos santos, e as máximas do Santo Evangelho. 



5. Os devotos inconstantes 

101. Os devotos inconstantes são aqueles que praticam alguma 
devoção à Santíssima Virgem a intervalos e por capricho: 
ora são fervorosos, ora tíbios; ora parecem dispostos a 
fazer tudo para servir Nossa Senhora, ora, e pouco depois, já 
não parecem os mesmos. A princípio abraçarão todas as devoções 
à Santíssima Virgem, entrarão em suas confrarias, mas 
logo depois já não praticarão as regras com fidelidade. Mudam 
como a Lua (Eclo 27, 12), e Maria esmaga-os sob os 
Seus pés como ao crescente (Ap 12, 1), porque são volúveis e 
indignos de serem contados entre os servos desta Virgem Fiel.

Estes têm a fidelidade e a constância por herança. Mais vale 
não se sobrecarregar com tantas orações e práticas de devoção, 
e fazer pouco com amor e fidelidade, a despeito do mundo, 
do demônio e da carne. 



6. Os devotos hipócritas 

102. Há ainda outros falsos devotos da Santíssima Virgem, 
que são os devotos hipócritas. Cobrem os seus pecados e maus 
hábitos com a capa desta Virgem Fiel, a fim de passar pelo 
que não são aos olhos dos homens. 



7. Os devotos interesseiros 

103. Os devotos interesseiros só recorrem à Santíssima Virgem 
para ganhar algum processo, para evitar algum perigo, 
para obter a cura de alguma doença, ou para qualquer outra 
necessidade deste gênero, sem o que a esqueceriam. Uns e 
outros são falsos devotos, e não têm aceitação diante de Deus 
nem de sua Santa Mãe. 



Guardemo-nos das falsas devoções 

104. Evitemos, portanto, pertencer ao número dos devotos 
críticos, que não acreditam em nada e criticam tudo; dos devotos 
escrupulosos, que temem ser demasiado devotos da 
Santíssima Virgem, por respeito para com Jesus Cristo; dos 
devotos exteriores, que fazem consistir toda a sua devoção 
em práticas externas; dos devotos presunçosos, que, ao abrigo 
da sua falsa devoção à Santíssima Virgem, apodrecem nos 
seus pecados; dos devotos inconstantes que, por leviandade, 
variam as suas práticas de devoção, ou as deixam completamente 
à menor tentação; dos devotos hipócritas, que entram 
em confrarias e usam as insígnias da Virgem a fim de se passar 
por bons, e finalmente, dos devotos interesseiros, que só 
recorrem à Santíssima Virgem para ser livres dos males do 
corpo, ou obter bens temporais.


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