segunda-feira, 17 de abril de 2017

Tratado - Dia #08L - 12 dias preliminares


8º dia

CAPÍTULO SEGUNDO

VERDADES FUNDAMENTAIS 
DA DEVOÇÃO À VIRGEM MARIA

60. Até aqui dissemos alguma coisa sobre a necessidade 
que temos da Devoção à Santíssima Virgem. Faz-se necessário 
dizer agora em que consiste esta mesma Devoção. É o que 
farei, com a ajuda de Deus, depois de propor algumas verdades 
fundamentais, donde se deduzirá a grande e sólida Devoção que 
quero descobrir. 

Artigo Primeiro 

Jesus Cristo é o Fim Último da Devoção à Virgem Maria 

61. Primeira Verdade. Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro 
Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de 
todas as devoções, de outro modo seriam falsas e enganadoras. 
Jesus é o alfa e o ômega, o princípio e o fim de todas as 
coisas. Nós não trabalhamos - como diz o Apóstolo - senão 
para tornar cada homem perfeito em Jesus Cristo. Porque só 
n'Ele habita toda a plenitude da Divindade, e todas as outras 
plenitudes de graça, virtude e perfeição, e só n'Ele fomos abençoados 
com toda a bênção espiritual. Ele é o nosso único 
Mestre que nos deve ensinar, o único Senhor de quem devemos 
depender, o único Chefe a quem nos devemos unir, o 
único Modelo ao qual nos devemos assemelhar, o único Médico 
que nos há de curar, o único Pastor que nos deve alimentar, 
o Caminho único que nos deve conduzir, a única Verdade 
em que devemos crer, a única Vida que nos deve animar, 
o único Tudo, que nos deve bastar em todas as coisas. Não 
nos foi dado, debaixo do Céu, outro Nome pelo qual devamos 
ser salvos, senão o Nome de Jesus. 

Deus não constituiu outro fundamento da nossa salvação, 
perfeição e glória senão Jesus Cristo. Todo edifício que 
não estiver erguido sobre esta pedra firme está construído sobre 
areia movediça e, mais cedo ou mais tarde, acabará, infalivelmente, 
por cair. 

Todo fiel que não estiver unido a Jesus, como o 
sarmento à cepa da vinha, cairá, secará, e só servirá para ser 
lançado ao fogo. Fora de Jesus Cristo tudo é extravio, mentira, 
iniqüidade, inutilidade, morte e condenação. 

Mas, se estamos em Jesus Cristo e Jesus Cristo em 
nós, não há condenação a temer. Porque assim nem os anjos 
do Céu, nem os homens da Terra, nem os demônios do inferno, 
nem qualquer outra criatura nos pode prejudicar, pois não 
nos poderá separar da caridade de Deus, que está em Jesus 
Cristo (Rm 8, 39). Por Jesus Cristo, com Jesus Cristo, em 
Jesus Cristo podemos tudo: dar toda honra e glória ao Pai, na 
unidade do Espírito Santo, tornar-nos perfeitos e ser, para o 
nosso próximo, um bom odor de vida eterna. 

62. Se, pois, nós estabelecermos a sólida Devoção da 
Santíssima Virgem, não será senão para mais perfeitamente 
estabelecer a de Jesus Cristo, e para dar às almas um meio 
fácil e seguro de encontrar Jesus Cristo. Se a Devoção à 
Santíssima Virgem afastasse de Jesus Cristo, deveríamos repeli-la como uma ilusão do demônio. Mas muito pelo contrário, 
como já o fiz ver e voltarei a mostrar mais adiante, esta 
Devoção é-nos indispensável para encontrar perfeitamente 
Jesus Cristo, para o amar ternamente e servir com fidelidade. 

63. Aqui volto-me um momento para Vós, ó meu amável 
Jesus, para queixar-me amorosamente à Vossa Divina Majestade, 
de que a maior parte dos cristãos, mesmo os mais instruídos, 
não saiba a ligação necessária entre Vós e Vossa Santa 
Mãe. Vós estais sempre com Maria, Senhor, e Ela está sempre 
convosco, nem pode estar sem Vós, pois deixaria de ser o 
que é. Maria está de tal modo transformada em Vós pela graça 
que já não vive, já nem existe: só Vós, meu Jesus, é que 
viveis e reinais n'Ela, mais perfeitamente que em todos os 
anjos e bem-aventurados. Ah! Se os homens conhecessem a 
glória e o amor que recebeis desta admirável criatura, teriam 
sobre Vós e sobre Ela sentimentos muito diferentes dos que 
têm. Ela Vos está tão intimamente unida que seria mais fácil 
separar a luz do Sol ou o calor do fogo. Digo ainda mais: 
seria mais fácil separar de Vós todos os anjos e santos, do que 
Maria Santíssima. Ela Vos ama, pois, mais ardentemente e Vos 
glorifica mais perfeitamente que todas as outras criaturas juntas. 

64. Depois disto, meu amável Mestre, não é coisa espantosa 
e lamentável ver a ignorância e as trevas de todos os 
homens deste mundo a respeito da Vossa Santa Mãe? Não 
falo tanto dos idólatras e pagãos que não Vos conhecem e, por 
isso, não se preocupam em conhecê-la. Nem falo sequer dos 
heréticos e cismáticos, que não cuidam de ser devotos da Vossa 
Santa Mãe, já que estão separados de Vós e de Vossa Igreja. 

Falo dos cristãos católicos, e mesmo dos doutores entre os 
católicos, que não Vos conhecem nem à Vossa Santa Mãe, 
senão duma maneira especulativa, seca, estéril e indiferente, 
embora façam profissão de ensinar a verdade aos outros. Estes 
senhores só raramente falam da Vossa Mãe e da devoção 
que se lhe deve ter, porque dizem temer que se abuse dela e 
que se faça a Vós injúria, honrando demasiadamente Vossa 
Santa Mãe. Um devoto da Santíssima Virgem fala da Devoção 
a esta boa Mãe duma forma terna, forte e persuasiva, como 
dum meio seguro e sem ilusão, dum caminho curto e sem 
perigo, duma via imaculada e sem imperfeição e dum maravilhoso 
segredo para Vos encontrar e amar perfeitamente. Mas, 
se esses senhores vêem ou ouvem alguém muitas vezes falar 
assim, levantam-se contra ele e apresentam mil falsas razões 
para lhe provar que não se deve falar tanto da Santíssima Virgem, 
que há grandes abusos nessa Devoção, que é preciso 
empenhar-se em destruí-los e em falar mais de Vós, de preferência, 
a levar os povos à Devoção a Maria, a quem já amam 
bastante. 

Por vezes falam da Devoção à Vossa Santa Mãe, ó Jesus, 
não para a estabelecer e propagar, mas para destruir os 
abusos que dela se fazem. Estes senhores não têm piedade 
nem Devoção terna para convosco, por não terem nenhuma a 
Maria. Consideram o Rosário, o escapulário, o Terço, como 
devoções de efeminados, próprias para ignorantes, e sem as 
quais nos podemos salvar. E se lhes cai em mãos algum devoto 
da Santíssima Virgem, que reze o Terço ou se entregue a 
qualquer outra prática de devoção para com Ela, depressa lhe 
mudarão o coração e o pensar. Aconselham que se reze, em 
lugar do Terço, os sete salmos. Em lugar da Devoção a Nossa 
Senhora, recomendar-lhe-ão a Devoção a Jesus Cristo. 

Ó meu amável Jesus, terão estas pessoas o Vosso espírito? 
Dão-Vos gosto procedendo deste modo? Agradar-Vos-á 
quem não empregue todos os esforços para agradar à Vossa 
Mãe, com receio de Vos desagradar? Por acaso, a Devoção à 
Vossa Santa Mãe impedirá a Vossa? Atribui-se Ela a si mesma 
a honra que lhe prestam? Forma Ela um partido à parte? É 
Ela uma estrangeira sem ligação alguma convosco? Desagradar-Vos-á quem procure agradar-lhe a Ela? Separa-se ou afasta-se do Vosso Amor quem a Ela se dá e a ama? 

65. No entanto, meu amável Mestre, se tudo o que acabo 
de dizer fosse verdade, a maioria dos sábios, para castigo do 
seu orgulho, não poderia afastar mais as almas da Devoção à 
Vossa Santa Mãe, e não lhe poderia votar mais indiferença. 
Livrai-me Senhor, livrai-me dos seus sentimentos e práticas. 

Dai-me parte nos sentimentos de gratidão, de estima, de respeito 
e de amor que Vós tendes para com Vossa Santa Mãe, 
para que Vos ame e glorifique mais na medida em que Vos 
imitar e seguir de mais perto. 

66. Como se até aqui ainda nada tivesse dito em louvor de 
Vossa Mãe Santíssima concedei-me a graça de a louvar dignamente, 
apesar de todos os Seus inimigos que são os Vossos. 
Fazei que clame com os santos: “Não julgue receber a misericórdia 
de Deus aquele que ofende sua Santa Mãe!” 

67. Para obter da Vossa misericórdia uma Verdadeira Devoção 
à Vossa Mãe Santíssima, e para inspirá-la a todo o 
mundo, fazei que Vos ame ardentemente. Recebei para isso a 
oração inflamada que Vos dirijo com Santo Agostinho e com 
os Vossos verdadeiros amigos: 

“Ó meu Jesus, Vós sois o Cristo, meu Pai Santo, meu 
Deus misericordioso, meu Rei infinitamente grande. Vós sois 
o meu Bom Pastor, meu único Mestre, meu Auxílio todo bondade, 
meu Bem-amado de arrebatadora beleza, meu Pão da 
Vida, meu Sacerdote eterno. Vós sois o meu Guia para a Pátria, 
minha Luz verdadeira, minha Doçura toda Santa, meu 
Caminho direto. Vós sois a minha Sabedoria sublime, minha 
Simplicidade pura, minha pacífica Concórdia. Vós sois toda 
a minha Defesa, minha preciosa Herança, minha eterna Salvação. 

Ó Jesus Cristo, Mestre adorável, porque é que eu amei 
ou desejei em toda a minha vida outra coisa fora de Vós, 
Jesus, meu Deus?! Onde estava eu quando não pensava em 
Vós?! Que o meu coração, ao menos a partir deste momento, 
só arda em desejos de Vós, Senhor Jesus; que só para Vos 
amar ele se dilate. Desejos da minha alma, correi doravante: 
já basta de delongas! Apressai-vos a atingir o fim porque 
aspirais, buscai em verdade Aquele que procurais! 

Ó Jesus, seja anátema quem não Vos amar! Seja repleto 
de amargura! Ó doce Jesus, sêde o amor, as delícias e o 
objeto da admiração de todo coração dignamente consagrado 
à Vossa glória. Deus do meu coração e minha herança, 
divino Jesus, que o meu coração esvazie-se do seu próprio 
espírito, para que Vós possais viver em mim, acendendo em 
minha alma a brasa ardente do Vosso Amor, que seja o princípio 
de um incêndio todo divino. Arda incessantemente sobre 
o altar do meu coração, inflame o mais íntimo do meu 
ser, e abrase as profundezas da minha alma. Que no dia da 
minha morte eu compareça diante de Vós todo consumido no 
Vosso Amor! Amém. Assim seja.” 

Embora o texto original traga esta admirável oração 
de Santo Agostinho em latim, quis o editor pô-la em português, 
a fim de que as pessoas que não saibam latim a possam 
rezar também todos os dias para pedir o Amor de Jesus, que 
buscamos por intermédio da divina Maria. 

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